Espaço destinado aos ecos, silêncios e construção do pensamento.
Aos limites da racionalidade, mas sobretudo na reflexão sobre a grande pólis que embarcamos todos os dias, nesta vida. O mundo, seja bem-vindo.
Espaço destinado aos ecos, silêncios e construção do pensamento.
Aos limites da racionalidade, mas sobretudo na reflexão sobre a grande pólis que embarcamos todos os dias, nesta vida. O mundo, seja bem-vindo.
Para os que julgavam que a guerra fria terminou em 1989, enganem-se, ela continua bem presente e entre nós. Os protagonistas não mudaram, Estados Unidos e Rússia, que com os seus parceiros, assumem claras divergências nos principais assuntos internacionais.
Mas convém realçar que o acontecimento mais importante de consonância entre os dois países, foi este ano e tem um interveniente português. Falo-vos da eleição de António Guterres para Secretário-Geral das Nações Unidas. Um momento em que o embaixador russo nas Nações Unidas consagra o nome de Guterres em Nova Iorque após a reunião dos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, na sede da organização. É sem dúvida um facto político a não descurar na cena política internacional nas relações entre a Rússia e os EUA, em que ambos concordaram na escolha de um secretário-geral das Nações Unidas.Processo que necessita de uma reforma, pois não deveriam ser permitidas candidaturas com o jogo a meio, como aconteceu nestas eleições.
Neste artigo, não apresentarei a narrativa de acontecimentos sobre as relações entre Estados Unidos e Rússia nos últimos 27 anos. Mas realço a ação político-diplomática que o ainda o Presidente dos Estados Unidos tem tido na tentativa de resolução e de aproximação a Moscovo, mas sem o sucesso esperado. Ao invés, parece que voltou o telefone vermelho entre a Casa Branca e Moscovo, como aquele que decorreu na primeira parte desta constante tensão ocidente-leste.
Vivemos talvez o período mais tenso entre estes dois países no século XXI. O xadrez político tem vários tabuleiros, nomeadamente, na problemática da Síria, Crimeia e no combate ao Daesh, e até no próprio continente europeu com as fronteiras a leste. E talvez seja aqui um problema sério, que tem sido descurado por parte das autoridades europeias, mas que as autoridades nacionais dos países da União Europeia a leste têm alertado. Uma enorme vulnerabilidade dentro da Europa.
Após a extinção do Pacto de Varsóvia, muitos dos países que integravam esta aliança militar com Moscovo foram inseridos na Aliança Atlântica, algo que nunca foi muito bem aceite pelas autoridades russas, que consideravam a sua integração como uma espécie de provocação. Aliás, é a leste que as forças da NATO têm tido os seus principais testes e simulações.
Por outro lado, Moscovo aproxima as suas tropas para junto das fronteiras dos países bálticos, Ucrânia e Bielorrússia. Aliás, na Lituânia a sua população parece preparar-se para o pior. Como resposta a estas “provocações” a força aérea russa, tem sobrevoado o espaço aéreo de países membros da organização atlântica, como é exemplo Portugal.
O exército russo, assume já as posições estratégicas como fazia no tempo da antiga União Soviética. As constantes ameaças do Presidente Vladimir Putin devem ser vistas como uma forma silenciosa de ocupar posições estratégicas no continente europeu e no reforço da hegemonia político-militar no leste europeu e na Ásia Central. A ingerência russa em territórios problemáticos como a Ossétia (Geórgia) e a Crimeia (Ucrânia) é uma forma de ocupação encapuçada, assumindo posições geoestratégicas no Cáucaso e no Mar Negro. No entanto, a Comunidade Internacional compactuou(a) com uma situação semelhante, a Chechénia, sendo caracterizado como um “assunto doméstico”.
Por sua vez, os Estados Unidos, poderão vir a assumir um papel diferente nas suas relações com Moscovo, uma vez que o novo inquilino da Casa Branca, Donald Trump, defende uma aproximação entre os dois países. Na sua campanha eleitoral, sempre realçou a necessidade de aproximação, bem como, desvalorizou a importância da NATO. Tendo em conta as suas declarações, parece que o novo Presidente dos Estados Unidos, despreza a importância que esta organização tem na garantia da segurança do espaço europeu e até mesmo dos países da América do Norte. Sejamos claros, embora seja um defensor incondicional da paz no principio consagrado das Nações Unidas, a posição desta nova administração poderá ditar a criação de um sistema de defesa europeu, ou seja, o exército europeu, de forma a que a Europa não se torne refém das pretensões políticas de Donald Trump que tem sobre a NATO.
E essa aproximação de Trump com Putin, será a cedência dos EUA aos objetivos russos ou voltaremos a ter a política bélica e intervencionista dos EUA nos diferentes pontos do globo? Os próximos quatros anos, serão a resposta a essa pergunta. Enquanto o tempo passa, mais dúvidas nos surgem e as incertezas poderão converter-se em certezas.
Quanto à Síria, é um autêntico barril de pólvora que se poderá traduzir num conflito regional generalizado, onde se jogará novamente a política de alianças. O sistema de alianças político-militar, está desde já assumido por parte de alguns líderes políticos dessa região. Tendo em conta as declarações do Presidente sírio à RTP, ficou bem demonstrado a sua desconsideração face à Turquia e a forma como esta tem sido liderada.
No entanto, convém relembrar que a Turquia é membro da NATO, mas que tendo em conta a tensa relação atual com o ocidente, esta aproximou-se da Rússia, que não é encarada com bons olhos por parte do ocidente. O posicionamento da Turquia, poderá ser determinante para paz regional. Assim como não deverá ser descurada a situação iraquiana, que ainda tem uma enorme fragilidade política e que tem uma guerra civil no seu território, principalmente a norte, contra os combatentes do Estado Islâmico. A debilidade nesta região poderá ainda ser maior, com o reacender da questão curda, a reclamar para si um território. Um conjunto de ingredientes explosivos que põe esta região numa corrida contra o tempo, onde a incerteza é o fator dominante.
O problema sírio, é talvez uma das maiores derrotas que a Ordem Mundial, assente desde 1991, está a ter. Os relatos de terror ocorridos neste país asiático, são autênticos atos de guerra, cometidos pelas diferentes forças em confronto. Os esforços diplomáticos na resolução deste conflito têm sido insuficientes ou diria, de uma enorme inoperância, fazendo com que cada vez mais inocentes morram e sofram, a cada dia.
As atrocidades cometidas em Alepo, devem ser consideradas como autênticos crimes de guerra, sendo os responsáveis condenados nas instâncias internacionais. A sua desresponsabilização conduziria a uma vitória das balas sobre o Direito Internacional e sobre o principio fundamental das Nações Unidas, a que todos os países inscritos. Alepo não é apenas uma cidade na Síria - é o estado do mundo. Onde o grito do medo ecoa pelas ruas vazias e frias da cidade. Um coração de um povo que sofre o terror das balas.
Poderia considerar-me um catastrofista, considerando inevitável um conflito global com repercussões inimagináveis, mas prefiro para já denominar esta situação, como a parte dois da guerra fria, com o ressurgimento da Rússia.
Embora para os principais líderes mundiais este cenário pareça um pesadelo ou filme, atrevo-me a utilizar o título de um filme de 2002, intitulado a Soma de Todos os Medos, mas que aqui o resultado não é ficção, é real.
Sempre nos ensinaram que a França foi o palco onde a liberdade e igualdade venceram. Em 1789, aí ocorreu a mais profunda transformação social de que somos seus filhos. O fim da estratificação social deu lugar aos cidadãos de direito pela lei, e não o direito pelo sangue ou pelo berço. Os ecos de liberdade, igualdade e fraternidade atingiram a Europa e transformaram a época de oitocentos na afirmação do liberalismo, salvo algumas exceções.
No Século XX, a França foi marcada e traumatizada por duas guerras mundiais que ceifaram a vida a muitos franceses, deixando marcas profundas na identidade da França e nas suas posições tomadas ao longo deste período.
Hoje, é um país diferente daquele que conhecíamos à entrada para o novo milênio. No princípio do século XXI, a doutrina Chirac, impunha o princípio pacífico de não agressão juntamente com a Alemanha de Gerard Schoerer. No que podemos designar no primeiro eixo franco-alemão do novo século, onde a posição de rejeição à intervenção dos Estados Unidos no Iraque foi o facto mais forte desta aliança. Esta aliança, viria a ter novos protagonistas devido à mudança de inquilinos nas residências destes dois países.
Nos campos Elíseos, chegava a Presidente Nicolas Sarkosy e desde 2005,no Bundestag a Chanceler alemã, Ângela Merkel. Ambos da mesma família política, assumiram uma estratégia comum na resposta à crise internacional, a austeridade. Uma ideia concebida como espécie de cura para uma Europa contamida pelo vírus das clivagens dos mercados financeiros, banca e dívidas soberanas. Uma doutrina alimentada pelo eixo Berlim-Paris que colocou a Europa numa divisão por alograma, a Europa do Norte(ricos) e Europa do Sul(pobres).
Poderemos aqui ter vários considerandos sobre a forma como foi ou não, resolvida a crise. Importante é realçar que a partir da crise de 2008, acordaram alguns fantasmas que outrora alguns julgavam adormecidos. O nacionalismo e a segregação racial ou/e étnica no espaço europeu.
Algumas dessas pessoas, vieram da região do Magreb e do Médio Oriente, face às convulsões políticas aí ocorridas, tais como a Primavera Árabe.A sua chegada a território francês não foi bem recebida, por alguns setores mais conservadores da socideade francesa. Estes emigrantes foram deslocados para os subúrbios das principais cidades francesas, onde se destacam Paris ou Marselha, onde por vezes são responsabilizados pelo aumento da criminalidade e da marginalidade em solo francês.
Em 2012, é chegada a possível alternativa, vinda do Partido Socialista Francês(PSF), François Hollande. Um politico desconhecido mas que alimentava o sonho de uma mudança política na França e de apresentar uma nova visão para a Europa. Era a esperança da maioria dos franceses que depositaram em si o voto na mudança.
Na realidade, volvidos quase 5 anos após a sua eleição a França está diferente e para pior. Assumiu uma postura de intervenção em alguns pontos do Globo, inclusivé com participação militar, nomeadamente no Mali, no entanto,não garantiu os resultados esperados.
É durante o seu consulado que a França viveu o terror do medo. Ninguém se esquecerá das imagens dos atentados ao Charlie Hebdo, do som dos tiros que silenciaram o Bataclan. E já este ano, o ataque a Nice. Uma França convertida num estado securitário perante a constante ameaça terrorista.
Aliado a esta situação, um agravamento da situação económica-financeira do país, da possível ocultação das suas contas públicas desde 2012, bem como na constante tensão social entre trabalhadores e patrões. O consulado de Hollande coadjuvado por Manuel Valls, fez com que a propagação de ideias populistas assumissem uma tremenda magnitude na cena política francesa, relegando o PSF para uma posição de espectador nas próximas eleições gerais em França.
A volatilidade de Hollande deu espaço político à extrema direita francesa, que assume o compromisso de devolver a França aos franceses e de referendar a sua posição na Europa. Os sinais são animadores para a Frente Nacional, nomeadamente com os sinais vindos do exterior, como o Brexit em Junho, a eleição de Trump, a possível vitória da extrema direita nas eleições presidenciais na Áustria e no incerto resultado do referendo em Itália. Se os sinais internos não são os mais animadores, do ponto de vista exterior não poderia ser pior. Pois bem, beneficiando destas condições torna-se num terreno fértil para a plantação de ideias nacionalistas, tais como, o protecionismo económico, a expulsão de emigrantes e referendar a posição francesa na União Europeia.
O combate político francês na Primavera está nivelado à direita, sendo urgente que o PSF (re)surja com uma nova visão para a França, assente na valorização do projeto europeu e no aproximar das suas posições junto dos trabalhadores e da população francesa.
E o que fica da Europa no caso de uma vitória da Extrema Direita, em França?Só lhe resta uma opção, ser uma espectadora, num filme onde alguns são produtores e outros até mesmo realizadores.
Muito se especulava para este ano de 2016 em termos políticos. Nem nos piores pesadelos os defensores da ordem mundial, pós-1945 ou fim da União Soviética, imaginariam as transformações geopoliticas que hoje estamos a viver.
A terrível fuga dos refugiados de cenários de guerra localizados no Médio Oriente e na África subsariana, faz com que encarem o continente europeu como a porta da liberdade. Mas em alguns estados, nomeadamente mais a leste, barram-lhes o acesso com imposições de barreiras, físicas ou legais, como foi o caso da Hungria, por decisão do seu PM, Viktor Orban. Uma clara violação do Direito Internacional, bem com dos príncipios fundadores da União Europeia. Pois bem, será que falemos em União ou Desunião? Atribuo essa avaliação ao leitor.
Este ano, as mudanças ocorrem de uma forma tão acelerada como a velocidade da internet que temos em nossas casas. Comecemos com o Brexit, suportados por uma ideia de independência - grito de Farage. O Reino Unido sairá da União Europeia. Esta situação desencadeará profundas transformações na sociedade britânica em todos os domínios, até no próprio mapa geopolitico da Grã- Bretanha, uma vez que a Escócia defende a manutenção do país na UE. Teremos do lado escocês uma espécie de grito de Edimburgo - Independência ou UE.
O Brexit foi é e será um desafio dos 27, que ainda se encontram a braços com a crise, à exceção da Alemanha.
Esta retrospetiva dos acontecimentos, faz antever um ano de 2017 ainda mais incerto e até mesmo receoso. Por fim, falar de duas situações muito sensíveis: Espanha, Estados Unidos e França, deixando esta para o próximo post.
Quanto à Espanha, que ao fim de quase um ano de impasse politico, tem um Governo suportado por uma minoria parlamentar (PP e Ciudadanos), Mariano Rajoy terá uma situação muito complicada. Um parlamento às avessas, face à atual situação em que se encontra o principal partido da oposição o PSOE, a irreverência do Podemos e a frágil cooperação dos Ciudadanos. Mas para além desta fragilidade parlamentar, a situação regional poderá tornar-se em mais um desafio para as autoridades do país vizinho, a propósito da questão catalã. Julgo que mais tarde ou mais cedo, haverá a necessidade de um referendo à Independência da Catalunha, ou por ação do Governo da Catalunha ou por exigências dos partidos regionais com representação no parlamento espanhol. Embora tenham pouco expressão, poderão ser suportados pelo Podemos e por alguma ala mais independentista do PSOE. Por outro lado, a pressão externa resultante do Brexit, com a posição escocesa que atrás referi.
Por fim falar, dos EUA, em que o triunfo eleitoral de Donald Trump, desencaderá na Europa as réplicas do seu discurso. Um discurso populista, alicercado na promessa de emprego para todos, na redução da carga fiscal. Trump revelou também um sentimento anti-refugiados, bem como, alguns dos seus apoiantes defenderam um princípio que julgaramos esquecido, como o da supremacia branca. Esta forma politica poderá servir como pão para a boca em alguns países europeus, que venham a ter eleições no próximo ano, como é caso da Alemanha, França e Holanda.
2016, é a vitória do ceticismo sobre o progresso, Trump, May, Boris Johnson, Marine Le Pen, Viktor Orban, são o rosto do Ceticismo descontente, que vai colhendo os frutos, que a crise semeou. 2017, poderá ser ainda mais... (escolha a palavra). De uma coisa é certa, vivemos tempos sombrios e pouco conhecidos.
A nossa primeira viagem, é sobre a atual situação politica em que se encontra a Itália:
No próximo dia 4 de dezembro, realiza-se um importante referendo em Itália sobre matéria constitucional, que na realidade é um exame político a Matteo Renzi, que em caso de chumbo, demite-se. Uma reforma constituicional, que visa dar novas atribuições e competências ao senado italiano. A Itália tem atualmente um sistema bicamaral – câmara dos deputados e senado – com poderes muito semelhantes. Este sistema foi introduzido logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, com receio da ascenção de um possível ditador, como Benito Mussolini na década de 20 do século passado.
Pois bem, face à debilidade política em Itália, as posições extremadas da Liga do Norte e do Movimento Cinco Estrelas, poderão sair bastante reforçadas nesta consulta popular. Ambos, defendem uma postura eurocética, que na realidade é a negação dos valores da Europa, um isolacionismo e um regresso ao proteccionismo económico.Onde já vimos isto? (Brexit) Com isto, em 70 anos, a Itália viu nascer 63 governos desde a Implantação da República, em 1946.
Na eventualidade, de uma nova crise política italiana (outra),segundo um artigo do FT, o risco de saída do Euro fica próximo, bem como, agrava ainda mais o débil sistema financeiro italiano, para além, dos aspetos sociais que assolam o povo transalpino. Estes ingredientes são a receita perfeita, para a afirmação de ideias populistas, assentes em ideias politicas, tais como, a saída da União Europeia, da moeda única e da desresponsabilização da problemática dos refugiados, defendendo a sua expulsão.
Esta consulta popular, são as primeiras eleições (chamemos assim) depois do terramoto Trump, cujas réplicas se vão sentir neste lado do Atlântico, que o diga, a França, com a candidata da Frente Popular Marine Le Pen, em primeiro lugar nas sondagens presidenciais.
O projeto europeu, vive um ano horribilis, fruto do descuido dos políticos europeus, que substimaram os fantasmas que se julgavam escondidos, mas afinal descobertos.
Hoje dia 24 de novembro de 2016, decidi aventurar-me no mundo da blogesfera. Utilizarei este espaço, para divulgar as minhas opiniões, estados de alma, sobre aquilo que acontece no nosso mundo. Não se trata de um espaço dedicado à crítica fácil sobre os desafios do mundo e sobre as decisões que afetam todos nós.