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Palavras sobre o Mundo

Espaço destinado aos ecos, silêncios e construção do pensamento. Aos limites da racionalidade, mas sobretudo na reflexão sobre a grande pólis que embarcamos todos os dias, nesta vida. O mundo, seja bem-vindo.

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Europa, uni-vos

por Tiago Aboim, em 23.03.20

A Europa acorda sobressaltada com uma guerra invisível e altamente destrutiva, que põe em causa o princípio da dignidade humana: a vida. As imagens e os relatos dos hospitais por toda a Europa são verdadeiramente assustadores e perturbadores, especialmente em Itália, Espanha, França, onde o número de mortos não para de aumentar. Os hospitais estão a converter-se em autênticos santuários, onde o medo e a morte parecem viver lado a lado.

Os governos europeus decretam o isolamento, para evitar uma autêntica carnificina dos seus cidadãos. Faltam-nos as palavras para perceber o porquê de tudo isto. As consequências são imprevisíveis para todos os setores, nomeadamente o social, económico, cultural e até mesmo político.

 

A economia europeia que dava sinais de recuperação assiste uma recaída que pode pôr em causa o modelo económico-financeiro que hoje conhecemos, isto se os decisores de Bruxelas e do Banco Central Europeu, não entenderem que será necessário um "Plano Marshall" para Europa (tal como afirmou o Primeiro-Ministro de Espanha, Pedro Sanchez). Um enorme programa macroeconómico que relance as bases da economia europeia, assente na sustentabilidade e na valorização dos seus trabalhadores e na proteção ambiental. Sexta-feira, a Presidente da Comissão Europeia deu um passo, com a suspensão das metas orçamentais dos países comunitários, para fazer face a este surto. A regra dos 3% de défice foi eliminada temporariamente, para que os países possam utilizar todos os recursos financeiros a fim de estancar este surto epidémico.

 

Os europeus não resistirão a uma nova crise como aquela que vivemos em 2008, especialmente os países do Sul, com enormes debilidades no seu tecido económico. Esta crise epidemiológica, é sem dúvida o maior desafio ao projeto europeu, pois não pode falhar. O seu falhanço representaria o triunfo do individualismo e do protecionismo, sobre a solidariedade e a cooperação entre os povos da Europa. A neoliberalização (com a tolerância de alguns partidos socialistas e sociais-democratas, que se curvaram perante a terceira via!) do projeto europeu dos últimos 30 anos prejudicou os cidadãos europeus, minimizou-se  o papel do Estado, os direitos dos trabalhadores, o acesso à saúde, educação e proteção social, agudizou-se a tensão entre países ricos e pobres, salvaram-se bancos, perdoaram-se dívidas, mas esqueceram-se do fundamental: os cidadãos. 

 

Urge um novo Contrato Social entre os cidadãos e as instituições que os representam (Governos, Parlamentos), a valorização do cidadão na sua plenitude no acesso à saúde, educação e à proteção social; a reinvenção do Estado-Providência no garante da qualidade e bem-estar da comunidade. A minimização do papel do Estado na sociedade resultou numa total desregulação das regras laborais, do sistema-financeiro e da própria economia e da proteção do meio-ambiente. A União Europeia terá de assumir os seus princípios fundadores. No plano financeiro, se existe um denominador comum, o Euro, para quando a emissão de dívida conjunta?! É crucial!

 

2020, já iniciou com uma ferida no coração europeu, com o Brexit (e o desastre que será para os britânicos, esta saída, no mínimo o caos). O COVID-19 e a problemática dos refugiados na Grécia, a lamentável  ação que foi tida com a Turquia, em nada se coaduna com o respeito pelos Direitos Humanos. A dignidade humana foi esquecida e não lembrada. Um mar de promessas falhadas que hipotecou a vida de tantas e tantas pessoas, que procuravam a Europa como uma porta para um futuro ou simplesmente para sonhar. Falhamos! E temos de o admitir perante todos os que chegam às costas da Europa. E aqueles que chegam sem vida, não basta uma sepultura, deve haver memória coletiva, consciência do erro! Imperdoável, Europa!

Esta é uma das feridas que têm de ser saradas de forma conjunta, não de forma isolada, mas num esforço comunitário.  Os nossos filhos não nos perdoariam se falhássemos por tudo aquilo que os nossos avós e pais ajudaram a (re)construir. Pede-se uma Europa de cidadãos para cidadãos, devolver a esperança aos povos. 

 

Os livros de História figuram a Europa como o berço da Democracia, Tolerância, Iluminismo, Liberdade, mas também por vezes vivemos no medo e no obscurantismo. Por esta Europa cinzenta suspiram alguns, que se fazem ser os ouvidos e a voz, como autênticos elementos de devolução de esperança, mas que exaltam o nacionalismo e o isolacionismo e todos os ismos, como o caminho pleno para a salvação coletiva, como outros num período não tão longe de ontem ,reclamavam!

 

Quero ensinar aos meus filhos o que é a Europa não o que foi a Europa. Mas quero uma "nova" Europa, a dos Cidadãos. De Todos para Todos.

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