O Triunfo do Ceticismo
Muito se especulava para este ano de 2016 em termos políticos. Nem nos piores pesadelos os defensores da ordem mundial, pós-1945 ou fim da União Soviética, imaginariam as transformações geopoliticas que hoje estamos a viver.
A terrível fuga dos refugiados de cenários de guerra localizados no Médio Oriente e na África subsariana, faz com que encarem o continente europeu como a porta da liberdade. Mas em alguns estados, nomeadamente mais a leste, barram-lhes o acesso com imposições de barreiras, físicas ou legais, como foi o caso da Hungria, por decisão do seu PM, Viktor Orban. Uma clara violação do Direito Internacional, bem com dos príncipios fundadores da União Europeia. Pois bem, será que falemos em União ou Desunião? Atribuo essa avaliação ao leitor.
Este ano, as mudanças ocorrem de uma forma tão acelerada como a velocidade da internet que temos em nossas casas. Comecemos com o Brexit, suportados por uma ideia de independência - grito de Farage. O Reino Unido sairá da União Europeia. Esta situação desencadeará profundas transformações na sociedade britânica em todos os domínios, até no próprio mapa geopolitico da Grã- Bretanha, uma vez que a Escócia defende a manutenção do país na UE. Teremos do lado escocês uma espécie de grito de Edimburgo - Independência ou UE.
O Brexit foi é e será um desafio dos 27, que ainda se encontram a braços com a crise, à exceção da Alemanha.
Esta retrospetiva dos acontecimentos, faz antever um ano de 2017 ainda mais incerto e até mesmo receoso. Por fim, falar de duas situações muito sensíveis: Espanha, Estados Unidos e França, deixando esta para o próximo post.
Quanto à Espanha, que ao fim de quase um ano de impasse politico, tem um Governo suportado por uma minoria parlamentar (PP e Ciudadanos), Mariano Rajoy terá uma situação muito complicada. Um parlamento às avessas, face à atual situação em que se encontra o principal partido da oposição o PSOE, a irreverência do Podemos e a frágil cooperação dos Ciudadanos. Mas para além desta fragilidade parlamentar, a situação regional poderá tornar-se em mais um desafio para as autoridades do país vizinho, a propósito da questão catalã. Julgo que mais tarde ou mais cedo, haverá a necessidade de um referendo à Independência da Catalunha, ou por ação do Governo da Catalunha ou por exigências dos partidos regionais com representação no parlamento espanhol. Embora tenham pouco expressão, poderão ser suportados pelo Podemos e por alguma ala mais independentista do PSOE. Por outro lado, a pressão externa resultante do Brexit, com a posição escocesa que atrás referi.
Por fim falar, dos EUA, em que o triunfo eleitoral de Donald Trump, desencaderá na Europa as réplicas do seu discurso. Um discurso populista, alicercado na promessa de emprego para todos, na redução da carga fiscal. Trump revelou também um sentimento anti-refugiados, bem como, alguns dos seus apoiantes defenderam um princípio que julgaramos esquecido, como o da supremacia branca. Esta forma politica poderá servir como pão para a boca em alguns países europeus, que venham a ter eleições no próximo ano, como é caso da Alemanha, França e Holanda.
2016, é a vitória do ceticismo sobre o progresso, Trump, May, Boris Johnson, Marine Le Pen, Viktor Orban, são o rosto do Ceticismo descontente, que vai colhendo os frutos, que a crise semeou. 2017, poderá ser ainda mais... (escolha a palavra). De uma coisa é certa, vivemos tempos sombrios e pouco conhecidos.